03/05/09

Para ti minha linda, a mais linda de todas as mães... acabei de falar contigo pelo telefone,morro de saudades tuas, mas como estamos longe uma da outra, e por isso não te posso dar beijos a cores e em 3 dimensões até ao final de Maio, ofereço-te este poema de José Letria. Fez-me lembrar quando dizes, que tens saudades nossas quando eramos pequeninos.
Quando Eu For Pequeno


Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.
Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes sobre a baía dos veleiros imaginados.
Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.
Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
José Jorge Letria, in "O Livro Branco da Melancolia"

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